A Era Colonial e o Barroco

 A Era Colonial e o Barroco

Esta primeira Era não é absolutamente uniforme; à medida que a Colônia  ganha fisionomia própria, as suas especificidades vão-se refletindo na produção literária, pelo que é usual o reconhecimento de três períodos distintos: No século XVI (1500-1601) predominou a Literatura SOBRE o Brasil, de caráter meramente informativo. O Barroco dominou o século XVII (1601-1768), caracterizado pela Literatura NO Brasil. Há produção propriamente literária, porém constituída da simplestransposição  dos modelos ibéricos. O ARCADISMO, século XVIII (1768-1836), faz surgir a Literatura DO Brasil. Começa a haver ressonância da sociedade colonial na produção literária, amparando os primeiros movimentos de rebelião contra os estatutos da Metrópole – Inconfidência Mineira, Revolução dos Alfaiates etc.
Literatura no Brasil
As primeiras manifestações literárias sobre a América estão delimitadas pelo seu caraterinformativo. Expressam, sem maiores intenções artísticas, os contatos do europeu com q novo mundo. São documentos a respeito das condições gerais, da terra conquistada. Neles se descrevem os problemas, as prováveis riquezas, as lutas de dominação, a paisagem física e humana, etc. As cartas de Fernão de Cortês sobre a subjugação do México são o exemplo mais famoso dessaliteratura informativa.
Prosa de Padre Vieira (1608-1697); MÚSICA DO PARNASO (17^), de Manuel Botelho de Oliveira; Fundação da Academia Brasílica dos Esquecidos (1724); 1768 – publicação de OBRAS POÉTICAS, de Cláudio Manuel da Costa (data convencional para o início do Arcadismo no Brasil).
1. O Barroco é o primeiro estilo artístico de nossa cultura. Pelo fato de sermos colônia de Portugal, nossa arte seiscentista não difere essencialmente daquela produzida na Península Ibérica, senão por aspectos de assunto local. Além disso, deve-se considerar o engenhoso esforço de Gregório de Matos, cuja obra irregular reproduz de maneira viva e bastante original a cor, os movimentos e a língua portuguesa falada na Bahia seiscentista.
2. O barroco literário brasileiro coincide com o esplendor do açúcar na Bahia, que foi nossa capital até 1763. É a época das invasões holandesas (1624-1654), da revolta de Beckman no Maranhão (1684), do Quilombo de Palmares (1630-1695) e da Guerra dos Mascates (Olinda e Recife, 1710).
3. Não havia imprensa no Brasil. Nossos poetas estudavam em Coimbra. Suas obras eram editadas em Portugal.
4. O Barroco Mineiro de Aleijadinho (escultura e arquitetura) e Manuel da Costa Ataíde (pintura)floresceu, tardiamente, na segunda metade do século XVIII, quando o Neoclassicismo já dominavao gosto literário.
O tema religioso domina a arte barroca, principalmente nos países que se conservaram católicos: Deus, pecado, perdão, culpa, arrependimento, medo, inferno, demônio, morte, contemplação mística, pompa e luxo terreno da igreja. A arte barroca é marcada pelos conflitos morais próprios ao tema religioso. Na pintura, os conflitos se manifestam no jogo entre o claro e escuro; na escultura, as formas insinuam sentimentos ambíguos; na música, desenvolve-se a polifonia e o contraponto; na arquitetura, preferem-se as formas instáveis e assimétricas, que sugerem movimento e instabilidade; na literatura, o homem dialoga com Deus, ora implorando a clemência celestial, ora argumentando em favor do gozo terreno.
A arte barroca é provocante. Preza o espanto e a surpresa. Procura comover a poder de recursos dramáticos, veiculando quase sempre as mensagens consagradas pelo Concílio de Trento. Nesse sentido, convém lembrar que uma das formas mais apreciadas pela literatura do tempo é o sermão religioso, cujo maior praticante na língua portuguesa foi Padre Antônio Vieira.

O Barroco nasceu na Itália na passagem do século XVI para o século XVII, em meio a uma das maiores crises espirituais que a Europa já enfrentara: a Reforma Protestante, que cindiu a antiga unidade religiosa do continente e provocou um rearranjo político internacional em que a Igreja Católica, outrora todo-poderosa, perdeu força e espaço.[1] Foi um estilo de reação contra o classicismo do Renascimento, cujas bases giravam em torno da simetria, da proporcionalidade, da economia, da racionalidade e do equilíbrio formal. Assim, a estética barroca primou pela assimetria, pelo excesso, pelo expressivo e pela irregularidade, tanto que o próprio termo "barroco", que nomeou o estilo, designava uma pérola de formato bizarro e irregular. Além de uma tendência estética, esses traços constituíram uma verdadeira forma de vida e deram o tom a toda a cultura do período, uma cultura que enfatizava o contraste, o conflito, o dinâmico, o dramático, o grandiloquente, a dissolução dos limites, junto com um gosto acentuado pela opulência de formas e materiais, tornando-se um veículo perfeito para a Igreja Católica da Contra-Reforma e as monarquias absolutistas em ascensão expressarem visivelmente seus ideais de glória e pompa. As estruturas monumentais erguidas durante o Barroco, como os palácios e os grandes teatros e igrejas, buscavam criar um impacto de natureza espetacular e exuberante, propondo uma integração entre as várias linguagens artísticas e prendendo o observador numa atmosfera catártica, apoteótica, envolvente e apaixonada. Essa estética teve grande aceitação na Península Ibérica, em especial em Portugal, cuja cultura, além de essencialmente católica e monárquica, em que se uniam oficialmente Igreja e Estado e se delimitavam fronteiras frouxas e indistintas entre o público e o privado, estava impregnada de milenarismo e do misticismo herdado dos árabes e judeus, favorecendo uma religiosidade onipresente e supersticiosa, caracterizada pela intensidade emocional. E de Portugal o movimento passou à sua colônia na América, onde o contexto cultural dos povos indígenas, marcado pelo ritualismo e festividade, forneceu um pano de fundo receptivo.[2] [3] [4] [5]

O Barroco apareceu no Brasil quando já se haviam passado cerca de cem anos de presença colonizadora no território. A população já se multiplicava nas primeiras vilas e alguma cultura autóctone já lançava raízes, embora os colonizadores ainda lutassem por estabelecer uma infraestrutura essencial — contra uma natureza ainda selvagem e povos indígenas nem sempre amigáveis — até onde permitisse sua condição de colônia pesadamente explorada pela metrópole. Nesta sociedade em trabalhos de fundação se instaurou a escravatura como base da força produtiva.[6] [7] [8] [9]

Nasceu o Barroco, pois, num terreno de luta e conquista, mas não menos de deslumbramento diante da paisagem magnífica, sentimento que foi declarado pelos colonizadores desde o início. Florescendo nos longos séculos de construção de um novo e imenso país, e sendo uma corrente estética cuja essência e vida está no contraste, no drama, no excesso e no maravilhamento, talvez mesmo por isso pôde espelhar a magnitude continental da empreitada colonizadora deixando um conjunto de obras-primas igualmente grandioso. Porém, mais do que uma corrente estética, o Barroco foi um movimento cultural que penetrou em todas as esferas e estratos sociais e desenhou todo um estilo de vida. O Barroco, então, confunde-se com, e dá forma a, uma larga porção da identidade e do passado nacionais Segundo Benedito Lima de Toledo, "fica um fato fundamental: por mais de três séculos o Barroco traduziu as aspirações e as contradições da sociedade brasileira, ávida de encontrar seus próprios caminhos. É a arte que dá expressão aos anseios da nação em sua longa busca de autoafirmação", e não por acaso Affonso Romano de Sant'Anna o chamou de "a alma do Brasil". Significativa parte desta herança artística hoje é Patrimônio da Humanidade, e um grande acervo foi tombado em nível nacional pelo IPHAN e por instâncias estaduais e municipais.

O Barroco no Brasil foi formado por uma complexa teia de influências europeias e adaptações locais, embora em geral coloridas pela interpretação portuguesa do estilo. É preciso lembrar que o contexto em que o Barroco se desenvolveu na colônia era completamente diverso daquele que lhe dera origem na Europa. Aqui tudo ainda estava "por fazer". Por isso o Barroco brasileiro, apesar de todo ouro nas igrejas nacionais, já foi acusado de pobreza e ingenuidade quando comparado com o europeu, de caráter erudito, cortesão, sofisticado, muito mais rico e sobretudo branco, pois grande parte da produção local tem de fato uma técnica rudimentar, criada por artesãos com pouco estudo, incluindo escravos e muitos mulatos forros, e até índios. Mas essa feição mestiça, ingênua e inculta é um dos elementos que lhe empresta originalidade e tipicidade. Como observou Lúcio Costa,


"Convém desde logo reconhecer que não são sempre as obras academicamente perfeitas... as que, de fato, maior valor plástico possuem. As obras de sabor popular, desfigurando a seu modo as relações modulares do padrões eruditos, criam, muitas vezes, relações plásticas novas e imprevistas, cheias de espontaneidade e de espírito de invenção, o que eventualmente as coloca em plano artisticamente superior ao das obras muito bem comportadas, dentro das regras do estilo e do bom gosto, mas vazias de seiva criadora e de sentido real".


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