Tecido Sanguíneo
INTRODUÇÃO
O sangue é um tipo especializado de tecido conjuntivo, de
consistência fluida, formado por elementos celulares suspensos em um meio
líquido denominado plasma. Os elementos celulares (também chamados elementos
figurados) são representados pelos glóbulos vermelhos (eritrócitos ou
hemácias), glóbulos brancos (leucócitos) e plaquetas (fragmentos celulares
também chamados trombócitos). O plasma representa a matriz extracelular do
tecido sanguíneo e é formado por água, sais minerais e substâncias orgânicas.
Um adulto possui cerca de 5 a 6 litros de sangue o que corresponde a 6-11% de
seu peso. Quando centrifugado, o sangue previamente tratado com anticoagulante
(ex.: EDTA) apresenta uma visível segregação de seus componentes. A camada
inferior, de coloração vermelho escuro, corresponde ao hematócrito que, por ser
constituído pelas células vermelhas do sangue, é analisado através de uma
escala sendo o resultado um importante indicativo da ocorrência de anemia. Os
eritrócitos correspondem a cerca de 45% a 55% por cento do volume sanguíneo. A
camada intermediária é a leucoplaquetária, sendo esta a mais delgada
corresponde a 1 % do volume sanguíneo. Por fim, a camada transparente superior,
com 55% a 60% do volume sanguíneo, corresponde ao plasma. Diferentemente dos outros
tecidos orgânicos, além da centrifugação, o esfregaço de uma gota de sangue
sobre uma lâmina, devidamente fixado e corado, constitui um importante método
de estudo deste tecido. O sangue participa das trocas gasosas com o ambiente,
constitui veículo para diversas substâncias (ex.: hormônios), participa da
termorregulação, defesa imunológica e por ter consistência fluida, circula por
todo o corpo promovendo a homeostasia.
PLASMA
O plasma corresponde à matriz extracelular não
característica do tecido sanguíneo uma vez que não é sintetizado pelos
elementos celulares deste tecido. Formado por água em cerca de 93%, o plasma é
o grande responsável pela fluidez do sangue, onde os elementos celulares
encontram-se nele suspensos. Além de água, o plasma é composto por proteínas,
nutrientes, sais e hormônios. As proteínas plasmáticas são produzidas no fígado
e dentre elas destacam-se: albumina, globulina e fibrinogênio. As albuminas são
proteínas carreadoras de diversas substâncias e responsáveis pela manutenção da
pressão osmótica (coloidosmótica) que participa da dinâmica dos fluidos nos
tecidos (ver capítulo TECIDOS CONJUNTIVOS ADULTOS). As globulinas participam
dos processos imunológicos e o fibrinogênio tem importante papel na coagulação
sanguínea. Glicose, aminoácidos e vitaminas correspondem aos nutrientes
presentes no plasma. Aproximadamente 1% do plasma é composto por eletrólitos
onde os principais são Na+, Cl- e HCO3-. O plasma é obtido através da
centrifugação do sangue previamente tratado com anticoagulante. Quando o sangue
coagula, a porção líquida formada é chamada soro sanguíneo, que é
essencialmente plasma sem fibrinogênio.
ELEMENTOS CELULARES
O sangue é um tecido dinâmico onde suas células encontram-se
em constante processo de renovação e remoção. Os elementos celulares do sangue
são produzidos na medula óssea hematogênica que corresponde ao tecido
hematopoético localizado no interior de ossos. A hematopoese ocorre através de
processos tais como a multiplicação e a diferenciação. Esses processos são
regulados por diversos fatores locais e sistêmicos (ver capítulo TECIDO
HEMATOPOÉTICO). As células sanguíneas são categorizadas em três grupos:
glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Os glóbulos vermelhos como o
próprio nome diz, correspondem às células vermelhas do sangue também chamadas
eritrócitos ou hemácias. Os glóbulos brancos reúnem as células de defesa que
atuam nos tecidos durante os processos imunes. O conjunto de glóbulos brancos é
conhecido como leucócitos e se subdivide em: granulócitos e agranulócitos. Os
granulócitos compreendem os neutrófilos, eosinófilos e basófilos. Os
agranulócitos são os monócitos e os linfócitos. As plaquetas, também chamadas
trombócitos, na verdade são fragmentos celulares que atuam na coagulação do sangue.
Eritrócitos
Os eritrócitos são células anucleadas, bicôncavas e
flexíveis que medem aproximadamente de 7 a 8 µm de diâmetro. Sua principal
função é carrear oxigênio (O2) dos alvéolos pulmonares para os tecidos e
remover destes o gás carbônico (CO2) levando-o para ser eliminado nos pulmões.
Para tanto, os eritrócitos são células especialmente projetadas para esta
função. São células anucleadas, bicôncavas e flexíveis. Por serem bicôncavas
(centro da célula possui menos de 1 µm de espessura), possuem uma maior
superfície de contato, podendo assim transportar uma considerável quantidade de
gases por célula. Essa morfologia se deve ao arranjando filamentoso de uma
proteína contrátil presente na membrana eritrocitária, denominada espectrina, e
o formato bicôncavo é mantido através de consumo de energia. Além disso, são
flexíveis, podendo ajustar-se ao pequeno diâmetro dos capilares e não possuem
núcleo e nem organelas citoplasmáticas, apenas membrana, citoesqueleto,
hemoglobina e enzimas glicolíticas. Assim, são arquitetadas especialmente para
a função de trocas gasosas. São as células sanguíneas presentes em maior
quantidade com 500 a 1000 vezes mais células do que os leucócitos. Os
eritrócitos humanos possuem uma vida útil de aproximadamente 120 dias quando
são fagocitados por macrófagos no baço e no fígado e substituídos por células
em estado imaturo chamadas reticulócitos. Os reticulócitos representam de 1% a
2% dos eritrócitos circulantes e qualquer alteração nesse valor é indicativo de
alterações na eritropoese (produção de eritrócitos), além de subsidiar a
classificação das anemias (regenerativa e arregenerativa). Diferentemente dos
eritrócitos, os reticulócitos possuem mecanismos para síntese protéica (RER,
ribossomos e mitocôndrias). Aproximadamente 1/3 do citoplasma eritrocitário é
ocupado pela hemoglobina, uma proteína conjugada formada por 4 cadeias
polipeptídicas ligadas a um grupo HEME (porfirina ligada ao ferro). A
hemoglobina carreia tanto o O2 o CO2 através de ligações instáveis com a porção
globina. Quando ligada ao O2, forma a oxihemoglobina e, quando ligada ao CO2, a
carboaminohemoglobina. Através da enzima metahemoglobina redutase, a
hemoglobina com ferro no estado ferroso é convertida em hemoglobina com ferro
na forma férrica (funcional) que tem grande afinidade pelo O2. A liberação do
O2 nos tecidos é facilitada pelo 2,3-difosfoglicerato (2,3-DPG) que diminui a
afinidade da hemoglobina pelo O2. O 2,3-DPG é liberado em tecidos com depleção
de O2.
Leucócitos
Representando o mecanismo central de defesa do corpo contra
diversas injúrias (microorganismos, toxinas, etc.), os leucócitos migram
através do sangue até o local da agressão atraídos por substâncias químicas em
um processo denominado quimiotaxia. São células de formato esférico e por isso
apresentam menor resistência ao sangue e consequentemente maior fluidez. O
processo de passagem pelo endotélio vascular (diapedese e endereçamento) de
certo modo “deforma” os leucócitos e estes tornam-se pleomórficos (várias
formas). Ocorrem no citoplasma dos leucócitos diversos grânulos característicos
dessas células. Esses grânulos na verdade são lisossomos revestidos por
membrana, com diversas enzimas em seu interior e podem ser classificados em:
primários (ou azurófilos) e secundários (ou específicos). Os grânulos primários
são os maiores, ocorrem em todas as células brancas e contêm lisozima,
hidrolase ácida, mieloperoxidade, elastase, colagenase e catepsina G. Os
grânulos secundários são menores (0,1 µm de diâmetro), ocorrem apenas nos granulócitos
e possuem enzimas bactericidas como a lisozima e outras proteases.
Neutrófilo
Os neutrófilos são leucócitos granulócitos e correspondem à
célula branca mais frequentemente encontrada no sangue, constituindo cerca de
60% a 70% dos leucócitos circulantes. Assim como os demais granulócitos, estas
células têm seu diâmetro variando entre 12 a 15 µm. Sua principal
característica é a intensa segmentação do núcleo que também é heterocromático.
As lobulações nucleares encontram-se unidas por filamentos de cromatina e
nucleoplasma. Nas fêmeas pode ocorrer uma lobulação em forma de raquete que
corresponde à cromatina sexual. O citoplasma é preenchido com organelas e
grânulos (primários e secundários) que coram-se fracamente. Assim como os
eritrócitos, utilizam a via anaeróbia para produzir ATP (energia). São as
primeiras células recrutadas diante de uma ameaça microbiana (principalmente
bactérias), sendo atraídas até o sítio da lesão por quimiotaxia (ver capítulo
SISTEMA IMUNE). Estas células fagocitam microorganismos que são englobados
pelos grânulos primários ao mesmo tempo em que liberam enzimas hidrolíticas,
ocasionando degradação da MEC (ver capítulo TECIDOS CONJUNTIVOS ADULTOS). Além
das substâncias presentes nos grânulos, outras substâncias atuam no processo
imune como as que reagem com o oxigênio (superóxido e peróxido de hidrogênio
[H2O2]) e a lactoferrina que quela o ferro necessário para o crescimento
bacteriano. Durante a execução de seus processos imunes, os neutrófilos também
são destruídos. O conjunto dessas células mortas, juntamente com os
microorganismos e MEC degrada dá-se o nome de pus. Os neutrófilos também
liberam leucotrienos que promovem reação inflamatória localizada e quimiotaxia
para outras células de defesa.
Eosinófilo
Os eosinófilos constituem a segunda maior população de
leucócitos agranulócitos, correspondendo 3% a 7% dos glóbulos brancos
circulantes. O núcleo é heterocromático, bilobulado e raramente apresenta mais
de três lobulações. Também se utilizam da via anaeróbia para produzir energia
na forma de ATP. Os grânulos primários se convertem em secundários ainda na
medula óssea. Além das substâncias encontradas comumente, os grânulos destas
células contêm proteínas catiônicas de ação parasiticida. Estas células possuem
limitada capacidade fagocitária que é mais direcionada para complexos
antígeno-anticorpo. São requeridas nos processos imunes contra parasitos
helmintos e também atuam em processos alérgicos. Na membrana plasmática destas
células, ocorrem numerosos receptores para a histamina, leucotrienos e FQE-A,
sendo atraídas por essas substâncias nas invasões parasitárias, alergias e
inflações.
Basófilo
Com cerca de 0% a 3% de participação nos leucócitos
circulantes, os basófilos são a menor população de glóbulos brancos do sangue.
Estas células possuem grânulos (predominantemente secundários) que reagem
positivamente ao método Giemsa. No interior desses grânulos estão presentes
muitas substâncias encontradas nos grânulos dos mastócitos (histamina,
heparina, FQE-A). Como possuem poucos grânulos primários, sua atividade
fagocitária é mais limitada dentre os granulócitos. Estas células atuam de
forma semelhante aos mastócitos onde antígenos se ligam aos receptores (IgE)
provocando assim a degranulação dos basófilos. Devido às semelhanças
morfológicas e funcionais, os basófilos e mastócitos são frequentemente ditos
como células de mesma origem embriológica.
Monócito
As maiores células do sangue, com diâmetro entre 12 a 18 µm
e aproximadamente 5% do número total de leucócitos circulantes são os
monócitos. Além do seu tamanho, estas células caracterizam-se pelo seu núcleo
quase sempre encontrar-se em posição excêntrica e assumirem formas variadas (reniforme,
grão de feijão, trilobulados, etc.). O citoplasma é ocupado por mitocôndrias,
RER, lisossomos, glicogênio e grânulos primários maiores que o convencional,
havendo carência de grânulos secundários. Após serem formados na medula óssea,
os monócitos passam poucos dias na corrente sanguínea, quando então migram para
os tecidos e lá duram meses na qualidade de macrófagos (ver capítulo TECIDOS
CONJUNTIVOS ADULTOS).
Linfócito
Os linfócitos são a segunda maior população de glóbulos
brancos, correspondendo a aproximadamente 20% do número de leucócitos
circulantes. São menos pleomórficos, com núcleo grande, arredondado e com
pequenos grânulos primários. São classificados de acordo com a função em:
linfócitos T, linfócitos B e células NK. Os linfócitos T são os mais frequentes
e quando ativados participam dos processos imunes celulares. Quando ativados,
se subdividem em três tipos celulares: células T auxiliares (1 e 2), células T
citotóxicas, células T de memória e células T supressoras. Essas células, no entanto,
só se ligam ao antígeno quando este é reconhecido por uma célula apresentadora
de antígeno (ex.: macrófago). Os linfócitos B participam dos processos imunes
humorais (produção de anticorpos) e quando estimulados se subdividem em
plasmócitos (células efetoras produtoras de anticorpos) e células B de memória
que são recrutadas em uma segunda exposição. O processo de produção de
anticorpos ocorre quase sem na presença de células T. Mas, há os chamados
antígenos timo-independentes que desencadeiam a produção de anticorpos na
ausência de células T, embora apenas IgM seja produzida e células de memória
não sejam formadas. As células NK, matadoras naturais (do inglês natural
killer), são capazes de destruírem células estranhas por citotoxidade sem a
influência de células B ou células T.
Plaquetas
As plaquetas ou trombócitos são fragmentos de uma célula
poliplóide, localizada na medula óssea, denominada megacariócito. São células
anucleadas, que apresentam vários tamanhos e possuem vida curta, não chegando a
duas semanas. Possuem duas regiões distintas: granulômero e hialômero. No
granulômero ocorrem mitocôndrias, peroxissomos, lisossomos, glicogênio e três
tipos de grânulos: α, β e λ (lisossômico). A região do hialômero é preenchida
por microtúbulos paralelos à membrana que conferem forma à plaqueta. O
glicocálix é bem desenvolvido o que promove alta capacidade de adesão a essas
células. A principal função das plaquetas é participar ativamente do processo
de contenção do sangue (hemostasia) quando da ocorrência de lesão vascular. As
plaquetas se agregam formando um tampão hemostático e posteriormente liberam
seus grânulos formando assim o coágulo secundário que é constituído de proteína
plasmática (fibrinogênio), agregados plaquetários e fatores de coagulação.
As principais funções do sangue:
Fisiologicamente o sangue, através das mais
diversas funções, faz com que a vida continue. A circulação distribui as
substâncias nutritivas e o oxigénio a todas as células do organismo
transportando aos órgãos excretores, tais como rins e pulmões, os resíduos dos
processos metabólicos que recebe dos tecidos. O sangue tem um papel
extremamente importante nas defesas imunitárias do organismo.
Quando bactérias, vírus ou outros organismos
perigosos penetram no corpo os componentes do sangue expulsam rapidamente o
intruso. Enfim, o sangue regula a temperatura interna distribuindo o calor em
todo o organismo. O sistema de circulação de um adulto possui cerca de 96.000
quilómetros de vasos sanguíneos.
Os componentes do sangue:
Figura 1: Representação dos elementos
corpusculares ou figurados (assim chamados pois podem ser vistos ao
microscópio) do sangue: plaquetas, glóbulos vermelhos e glóbulos brancos.
Um organismo adulto contém em média 5 litros de
sangue que circulam constantemente. Pouco mais de metade deste sangue
constitui-se de plasma, substância formada por 90% de água. Aproximadamente 10%
do plasma são compostos por uma miríade de substâncias transportadas pelas
células e depois eliminadas: hormonas, vitaminas, minerais, glucose, proteínas,
sais e resíduos.
Aproximadamente 45% do volume sanguíneo são
formados de três tipos de células com várias funções: glóbulos vermelhos,
glóbulos brancos e plaquetas.
Os glóbulos vermelhos, ou hemácias, são
células em forma de disco e possuem um pigmento no qual se fixa o oxigénio: a
hemoglobina. O sangue é muito vermelho quando está repleto de oxigénio. Quando
a hemoglobina solta o oxigénio e enche-se de gás carbónico - o produto
eliminado através das reacções orgânicas - o sangue torna-se roxo.
Figura 2: Os glóbulos vermelhos são produzidos
pela medula óssea, sobretudo no esterno e nas costelas.
A hemoglobina, que contém ferro, é o principal
das hemácias.
Os glóbulos brancos, ou leucócitos, são
maiores do que os glóbulos vermelhos. Na realidade não são brancos, mas de cor
neutra. Existem vários géneros de glóbulos brancos. Os eutrófilos defendem o
organismo das bactérias. Os linfócitos executam uma tarefa imunitária: alguns
têm uma memória que lhes dá a possibilidade de reconhecer os agentes
infecciosos específicos; outros produzem os anticorpos que reagem ao ataque.
Os eosinófilos servem para identificar os
alergéneos e outros corpos estranhos.
Os basófilos soltam substâncias que agem como
anticoagulantes e ajudam na luta contra a inflamação dos vasos sanguíneos.
Os monócitos absorvem as bactérias.
As plaquetas são as mais pequenas das células
sanguíneas e foram assim chamadas devido à sua forma achatada. As plaquetas
levam a cabo uma tarefa importante na coagulação. Quando um vaso sanguíneo é
lesionado as plaquetas aglomeram-se e aderem às paredes deste vaso. Elas
produzem uma substância que atrai outras plaquetas: estas, por sua vez,
aglomeram-se para formar um coágulo que estanca a hemorragia.
O funcionamento do sangue:
Figura 3: Função da hemoglobina na circulação
sanguínea. Ao circular no organismo as células do sangue distribuem o oxigénio
e absorvem o gás carbónico.
Uma simples gota de sangue contém 250 milhões de
células produzidas pelo organismo. Os glóbulos vermelhos são produzidos pela
medula óssea, um tecido esponjoso que se encontra dentro do osso. Um adulto
possui em média 25.000 milhões de glóbulos vermelhos, quantidade suficiente
para cobrir um campo de futebol se forem espalhados numa camada única.
Os glóbulos vermelhos são produzidos
pernamentemente com um ritmo de 180 milhões por minuto. A maior parte do ferro
contido nas hemácias é reciclado dentro da medula óssea e entra na composição
da hemoglobina.
São necessários cerca de seis dias para
fabricar um glóbulo vermelho que vive em média 120 dias. Quando o sangue
atravessa os pulmões a hemoglobina enche-se de oxigénio (até quatro moléculas
de oxigénio para uma de hemoglobina). O sangue oxigenado volta então para o
coração que o faz circular novamente.
Todas as células do organismo são nutridas
pelos capilares, os vasos mais pequenos do sistema arterial. As paredes dos
capilares são muito finas e são constituídas por uma camada única de células:
através destas células os glóbulos vermelhos transferem oxigénio e substâncias
nutritivas aos tecidos, enquanto absorvem gás carbónico. Através do sistema
capilar os glóbulos podem em seguida retornar aos pulmões onde soltam o gás
carbónico e enchem-se de oxigénio.
Os glóbulos brancos são produzidos na medula
óssea e nos gânglios linfáticos, no baço, no timo e nas amígdalas.
A longevidade dos glóbulos brancos varia
conforme a sua natureza e as circunstâncias. Por exemplo, ao desencadear-se uma
infecção, milhares destes glóbulos morrem e devem ser substituídos. O pus que
se forma numa ferida é constituído de glóbulos brancos que morreram após terem
destruído as bactérias.
Os glóbulos brancos, são capazes de distinguir
o hóspede dos corpos estranhos, repelindo estes últimos. Este mecanismo de
rejeição natural é o principal obstáculo ao êxito dos transplantes de órgãos.
A vida das plaquetas tem uma duração limitada
que vai de 5 a 8 dias. Produzidas na medula óssea, as plaquetas conseguem
reagir, através da coagulação, a muitas substâncias químicas.
O estudo dos componentes do sangue:
O sistema mais simples para estudar a sua
composição é tirar uma amostra e examiná-la ao microscópio. É exactamente o que
foi feito pela primeira vez em 1658 pelo investigador Jan Swammerdam. Hoje em
dia os exames de laboratório são os mais frequentes. O sangue transporta
milhares de substâncias diferentes cuja ausência, presença e concentração
dão-nos informações importantes a respeito do estado do nosso organismo. Os
laboratórios modernos possuem os equipamentos mais avançados que podem
identificar dezenas de substâncias diversas numa pequena quantidade de sangue.
Os principais exames do sangue:
Figura 4: Ao cortar um dedo, as plaquetas
afluem para a ferida e aglomeram-se até formarem um coágulo (ver amplição na
figura acima). Desta maneira o corte pode fechar-se e a hemorragia estanca.
A contagem completa permite estabelecer a quantidade dos
principais componentes do sangue. Equipamentos electrónicos complexos medem a
concentração de hemoglobina, glóbulos vermelhos e brancos, hematrócitos e
plaquetas. É o exame necessário para o diagnóstico da anemia e outras doenças.
A fórmula leucocitária é o número que se refer aos vários géneros de
glóbulos brancos, expresso como percentagem do total de leucócitos. Identifica
algumas infecções ou doenças das células sanguíneas.
As análises químicas do sangue estabelecem a quantidade das
substâncias de cuja presença dependem o equilíbrio químico e as moléstias do
metabolismo. Em geral medem-se as taxas de ureia, azoto, albumina, creatinina,
ácido úrico, electrólitos, glucose, colesterol e bilirrubina.
A hemocultura é uma técnica que evidencia os micróbios acaso
existentes no sangue de maneira a fazer um tratamento antibiótico correcto.
A velocidade de sedimentação é a velocidade com a qual os glóbulos vermelhos
se separam do plasma e é muito útil para o diagnóstico de estados
inflamatórios.
A gasometria sanguínea é o exame que mede o conteúdo de oxigénio e de
gás carbónico e fornece o nível do bom funcionamento dos pulmões.
A determinação do grupo sanguíneo: A superfície dos glóbulos vermelhos está
salpicada de proteínas, os antígenos, a partir das quais se determinam os
quatro grupos principais do sangue: A, B, AB e O. Para fazer uma transfusão é
essencial que o grupo do doador seja o mesmo do receptor.
O factor Rh é outro sistema para identificar o
sangue. O sangue, além dos antígenos A e B, pode possuir um antígeno Rh. Os
seus portadores são chamados de Rh positivos e, os que não o têm, de Rh
negativos. Com o factor Rh os grupos sanguíneos são, portanto, oito: A+, A-,
B+, B-, AB+, AB-, O+, O-.
Todas as mulheres grávidas fazem o teste para
identificar o grupo sanguíneo. Se uma mãe Rh negativa estiver à espera de um
filho Rh positivo, poderá fabricar anticorpos contra o sangue fetal. Isto não
afecta a primeira criança mas pode´ria prejudicar o feto no caso de uma nova
gravidez.
As principais doenças do sangue
As doenças do sangue podem ser adquiridas ou
hereditárias; podem surgir em todos os processos que participam na formação das
células sanguíneas ou nos próprios componentes do sangue.
Moléstias da coagulação: A coagulação do sangue excessiva do sangue pode
provocar embolia pulmonar, ictus, paragem cardíaca. Para prevenir a formação de
trombos o médico receita um remédio contra a coagulação ou pequenas doses de
aspirina.
As anemias devido a carência: Existem vários géneros de anemias mas todos têm
em comum a deficiência de hemoglobina. A anemia mais comum é devido a uma falta
de ferro, quer por carências alimentares quer devido a hemorragia. A anemia
perniciosa deve-se à deficiência de vitamina B12 causada pelo mau funcionamento
do intestino que não consegue absorvê-la.
A deficiência de ácido fólico revela-se
principalmente nos alcoólatras, nas pessoas de idade ou mal alimentadas.
Figura 5: A medula óssea produz 9 milhões de
glóbulos vermelhos por hora. A sua carência é uma das causas da anemia.
Anemias hemolíticas: Devem-se a uma relevante redução do período de
vida dos glóbulos vermelhos. Estas anemias, na maioria das vezes, são
hereditárias: um defeito genético modifica o metabolismo e a estrutura das
hemácias.
Hemofilia: É uma doença hereditária, transmitida da mãe para o filho.
Manifesta-se quase sempre nos homens que, devido à falta de tromboquinases, uma
das enzimas cogulantes, sofrem de um defeito na coagulação do sangue. Qualquer
ferida, mesmo a mais pequena, pode provocar-lhes uma grave hemorragia. Até há
poucos anos atrás os hemofílicos estavam condenados a uma vida de sofrimentos.
Actualmente a maioria dos casos de hemofilia podem ser controlados de maneira
eficaz graças à transfusão de factores de coagulação estraídos do próprio
sangue humano.
Leucemia: Existem várias formas de leucemia: estas doenças são
caracterizadas pela presença no sangue de um número excessivo de glóbulos
brancos. Podem ser agudas ou crónicas. Algumas afectam principalmente as
crianças, outras as pessoas adultas.
Até há poucos anos atrás a leucemia aguda
levava à morte. A crónica também era fatal, mas os doentes conseguiam
sobreviver alguns anos. Hoje em dia, a metade dos doentes com leucemia
restabelece-se graças à quimioterapia combinada, às vezes, com um transplante
de medula óssea.
Hematocitose: Esta doença caracetriza-se pela presença de um
número excessivo de glóbulos vermelhos que aumentam o volume sanguíneo. Além
disso, o sangue torna-se mais viscoso com uma grande tendência à coagulação. O
tratamento consiste em tirar quantidades de sangue para reduzir o número de
glóbulos vermelhos.
Septicemia: É uma infecção grave e generalizada devida à
penetração de germes patógenos no sangue. Se não for tratada a septicemia é
mortífera.
Anemia de hemácias com aspecto falciforme ou
drepanocítica: É uma doença hereditária
caracterizada pela presença de glóbulos vermelhos abnormes. A drepa é causada
por um gene recessivo e para aparecer numa criança deve ser transmitida por
ambos os pais. Esta patologia parece manifestar-se sobretudo na
"raça" negra.
Talassemia: Trata-se de outra doença hereditária causada por
um defeito na produção de hemoglobina. É comum sobretudo nos povos
mediterrâneos.
Alterações dos glóbulos brancos: Uma baixa no número dos glóbulos brancos gera
uma maior predisposição às infecções. Esta doença pode ficar isolada (chama-se
então neutropenia) ou pode ser acompanhada de alterações dos glóbulos
vermelhos.
Principais sintomas das doenças do sangue
--> cor anómala;
--> palidez, rubor pronunciado ou íctero;
--> maior viscosidade do sangue;
--> fadiga;
--> hemorragias excessivas;
--> hematomas;
--> pequenas manchas vermelhas na pele;
--> articulações inchadas e doridas;
--> falta de fôlego;
--> predisposição para as infecções.
Importante:
Muitas doenças graves como hepatite e SIDA podem
ser transmitidas com o contacto sanguíneo direto. No caso de uma transfusão é
necessário averiguar que o sangue seja imune a estas doenças. Na maioria dos
países desenvolvidos este controlo é realizado de maneira sistemática. Um
veículo para as doenças que se transmitem através do sangue podem ser as
seringas contaminadas. É por esta razão que nos países desenvolvidos usam-se
somente seringas descartáveis.
Nos
países mais pobres, por falta de recursos, as seringas são reaproveitadas e a
esterilização nem sempre é cuidadosa. É necessário, portanto, ter muito cuidado
na hora de tomar uma injeção ou de fazer uma transfusão se está a viajar
no exterior. Se tiver alguma dúvida a respeito do sangue ou da seringa a serem
utilizados, é melhor recusar o tratamento ou fornecer pessoalmente.
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