Lenda do Curupira
O Curupira gosta de sentar na sombra das mangueiras para
comer os frutos. Lá fica entretido ao deliciar cada manga. Mas se percebe que é
observado, logo sai correndo, e numa velocidade tão grande que a visão humana
não consegue acompanhar. "Não adianta correr atrás de um Curupira",
dizem os caboclos, "porque não há quem o alcance".
A função do curupira é proteger as árvores, plantas e
animais das florestas. Seus alvos principais são os caçadores, lenhadores e
pessoas que destroem as matas de forma predatória.
Para assustar os caçadores e lenhadores, o curupira emite
sons e assovios agudos. Outra tática usada é a criação de imagens ilusórias e
assustadoras para espantar os "inimigos das florestas".
História do Curupira
Estava o Curupira andando pela floresta, quando encontrou um
índio caçador que dormia profundamente. O Curupira estava com muita fome e
cismou em comer o coração do homem. Assim, fez com que ele acordasse. O caçador
levou um susto, mas como ele era muito controlado, fingiu que não estava com
medo. O Curupira disse-lhe:
- Quero um pedaço de seu coração!
O Caçador, que era muito esperto, lembrando-se que havia
atirado num macaco, entregou ao Curupira um pedaço do coração do macaco. O
Curupira provou, gostou e quis comer tudo.
- Quero mais! Quero o resto! – pediu ele. O Caçador
entregou-lhe o que havia sobrado, mas, em troca, exigiu um pedaço do coração do
Curupira.
- Fiz sua vontade, não fiz? Agora você deve dar-me em
pagamento um pedaço de seu coração, disse ele.
O Curupira não era muito esperto e acreditou que o Caçador
havia arrancado o próprio coração, sem ter sofrido nenhuma dor e sem haver
morrido.
- Está certo, respondeu o Curupira, empreste-me sua faca.
O Caçador entregou-lhe a faca e afastou-se o mais que pôde,
temendo levar uma facada. O Curupira, porém, estava sendo sincero. Enterrou a
faca no próprio peito e tombou, sem vida. O Caçador não esperou mais, disparou
pela floresta com tal velocidade que deixaria para trás os bichos mais
velozes…Quando chegou à aldeia, estava com a língua de fora e prometeu a si
mesmo não voltar nunca mais à floresta. Pensou: “Desta escapei. Noutra é que
não caio”
Durante um ano, o índio não quis saber de entrar na mata.
Quando lhe perguntavam por que não saía mais da aldeia, ele se desculpava,
dizendo estar doente.
O Caçador tinha uma filha que era muito vaidosa. Como
haveria uma festa dentro de poucos dias, ela pediu ao pai um colar diferente de
todos os que ela já tinha visto.
O índio, pai dedicado, começou a pensar num modo de
satisfazer o desejo da filha. Lembrou-se, então, dos dentes verdes do Curupira.
Daria um bonito colar, sem dúvida.
Partiu para a floresta e procurou o lugar onde o gênio havia
morrido. Depois de algumas voltas, deu com o esqueleto meio encoberto pelo
mato. Os dentes verdes brilhavam ao sol, parecendo esmeraldas.
Conseguindo vencer o receio, apanhou o crânio do Curupira e
começou a bater com ele no tronco de uma árvore, para que se despedaçasse e soltasse
os dentes.
Imaginem a sua surpresa quando, de repente, viu o Curupira
voltar à vida! Ali estava ele, exatamente como antes, parecendo que nada havia
acontecido!
Por sorte, o Curupira acreditou que o Caçador o ressuscitara
de propósito e ficou todo contente:
- Muito obrigado!
Você devolveu-me a vida e não sei como agradecer-lhe!
O índio percebeu que estava salvo e respondeu que o Curupira
não tinha nada que agradecer, mas ele insistia em demonstrar sua gratidão.
Pensou um pouco e disse:
- Tome este arco e esta flecha. São mágicos. Basta que você
olhe para a ave ou animal que deseja caçar e atire. A flecha não errará o alvo.
Nunca mais lhe faltará caça. Mas, agora, ouça bem: jamais aponte para uma ave
ou animal que esteja em bando, pois você seria atacado e despedaçado pelos
companheiros dele. Entendeu?
O índio disse que sim e desde aquele momento não mais lhe
faltou caça. Era só atirar a flecha e zás! O bicho caía. Tornou-se o maior
caçador de sua tribo. Por onde passava, era olhado com respeito e admiração.
Um dia, ele estava caçando com outros companheiros que não
tinham mais palavras para elogiá-lo. O índio sentiu-se tão importante que, ao
ver um bando de pássaros que se aproximava, esqueceu-se da recomendação do
Curupira e atirou…
Matou somente um pássaro e, como o Curupira avisara, foi
atacado pelo bando enlouquecido pela perda do companheiro.
De seus amigos, não ficou um: dispararam pela floresta,
deixando-o entregue à própria sorte.
O pobre índio foi estraçalhado pelos pássaros. A cabeça
estava num lugar, um braço no outro, uma perna aqui, outra longe… O Curupira
ficou com pena dele. Arranjou cera e acendeu um fogo para derretê-la. Depois recolheu os pedaços do Caçador e
colou-os com a cera. O índio voltou à vida e levantou-se:
- Muito obrigado! Não sei como agradecer-lhe!
- Não tem o que agradecer, respondeu o Curupira, mas preste
atenção. Esta foi a primeira e ú1tima vez que pude salvá-lo! Não beba, nem coma
nada que esteja quente! Se o fizer, a cera se derreterá e você também!
Durante muito tempo, o índio levou uma vida normal. Ninguém
sabia do acontecido. Um dia, porém, sua mulher lhe serviu uma comida quente e
apetitosa, tão apetitosa que o índio nem se lembrou que a cera poderia
derreter-se. Engoliu a comida e pronto! Não só a cera se derreteu, mas também o
próprio índio
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